Teste do Sigma BF no Mundo Real: Revisão Dia a Dia

Explorando a Câmera Minimalista Sigma BF em Estocolmo

Recentemente, tivemos a oportunidade de testar a nova câmera Sigma BF, descrita como muito minimalista, durante uma viagem a Estocolmo, Suécia. Este teste de campo ocorreu em um contexto único: uma visita à sede do Spotify. Embora a viagem não tenha sido patrocinada, foi uma ocasião ideal para colocar à prova uma câmera focada em minimalismo em um país conhecido por seu design igualmente minimalista.

A jornada começou com uma breve introdução ao ambiente e uma verificação essencial de café para a equipe. Em seguida, fomos ao QG do Spotify. Após configurar nossas contas, recebemos prêmios baseados em nossos hábitos de uso da plataforma — curiosamente, um dos prêmios foi por ouvir a mesma música repetidamente, devido ao uso frequente de ruído branco para trabalhar.

O evento contou com uma apresentação de um copresidente e CTO do Spotify, que compartilhou uma interessante lição de história sobre a Suécia e como o país moldou o nascimento da empresa. Ele destacou que fatores como o legado socialista, que garantiu acesso rápido à internet para todos muito cedo, e investimentos em programas como “PC para todos” (permitindo que famílias comprassem PCs com grandes descontos), criaram o ambiente perfeito para inovações como o Spotify, assim como para o surgimento de plataformas de compartilhamento de arquivos como The Pirate Bay.

O Spotify, lançado em 2006, precisou ser melhor do que a pirataria gratuita, oferecendo *streaming* instantâneo de músicas em vez de downloads demorados. Posteriormente, a empresa implementou monetização através de anúncios e, mais tarde, assinaturas, que hoje representam a maior parte da receita. Também foram apresentados futuros recursos da plataforma, que ainda não podem ser compartilhados.

A experiência continuou com uma discussão sobre o crescimento do vídeo na plataforma e um tour pelo estúdio de música do Spotify, onde alguns participantes puderam gravar vocais de apoio.

O Design da Sigma BF e as Primeiras Impressões

Antes de mergulhar nas especificações, é importante falar sobre o design da Sigma BF, que é bastante polarizador. A maioria das pessoas que a viu pareceu apreciar seu visual. A câmera é fabricada a partir de um único bloco de alumínio, que é usinado por mais de 9 horas. Ela está disponível em preto e prata, sendo esta última a cor que mais chamou a atenção.

A Sigma BF foi co-projetada com o Sigma pelo Stockholm Design Lab, localizado próximo ao QG do Spotify. Devido à sua construção em bloco sólido, ela é mais pesada do que o esperado inicialmente, embora não seja pesada no geral; a sensação é apenas surpreendente no primeiro contato.

A câmera é intencionalmente minimalista, descrita como “despojada até a essência”, buscando equilibrar desempenho com simplicidade, focando no que realmente importa: as fotografias.

Características Físicas e Ausências Notáveis

O design minimalista se reflete em suas conexões e controles:

  • Possui apenas um ponto para alça de pulso (lug strap), sugerindo o uso de uma alça de pulso. É possível adicionar um suporte de tripé na parte inferior para usar uma alça de corpo completa.
  • Não há tela articulada (flip out screen).
  • Não há visor eletrônico (EVF).
  • A parte inferior é emborrachada para evitar arranhões na câmera ou na superfície onde for apoiada.
  • Não há sapata fria (hot shoe mount).
  • Não há entrada de áudio de 3,5 mm.
  • Não há slot para cartão SD; o armazenamento é feito por uma porta USB-C que acessa um SSD interno rápido.

O armazenamento interno via SSD é uma vantagem em termos de velocidade. Ligar/desligar a câmera e navegar pelas fotos e vídeos é a experiência mais rápida já vista em uma câmera.

Experiência de Uso na Prática

A jornada de teste continuou com um passeio de barco, aproveitando um dia incomumente quente de abril em Estocolmo. Como esperado em um evento do Spotify, havia um DJ e bebidas temáticas. O barco até possuía um código Spotify que carregava uma *playlist* divertida.

O passeio de barco foi ideal para testar a câmera, pois Estocolmo é construída sobre 14 ilhas, parte do Arquipélago de Estocolmo, que possui cerca de 2.400 ilhas. A cidade foi estrategicamente posicionada para defesa contra invasões marítimas e se tornou um importante centro comercial. O nome “Estocolmo” em sueco significa “ilha do poste/tronco” (*stock* = poste/tronco, *holm* = pequena ilha), onde se localizam importantes marcos como o palácio, a bolsa de valores e o Museu Nobel.

Controles e Interface

Ao filmar durante o passeio, foram observadas as seguintes características da interação com a Sigma BF:

* **Tela Traseira:** Embora não se incline, a tela é muito nítida e clara. Foi necessário aumentar o brilho ao máximo sob luz solar intensa, mas, na maior parte do tempo, foi possível visualizá-la.
* **Controle Touchscreen:** É limitado. É possível tocar para rastrear o foco, como em um smartphone, o que funciona muito bem.
* **Autofoco:** É considerado bastante impressionante.
* **Obturador:** É sensível à pressão, permitindo focar e disparar usando apenas o obturador eletrônico.
* **Controles Físicos:** Há uma roda que funciona como um D-pad com um botão central. O botão de ligar/desligar permite desligar completamente a câmera ou colocá-la em modo de espera (com um toque).
* **Botões Hápticos:** Existem dois botões hápticos (sensíveis ao toque/vibração) que só funcionam com a câmera ligada.
* O botão de *play* permite acessar a galeria de reprodução ou, se o dedo repousar levemente sobre ele, visualizar rapidamente a última foto tirada.
* O botão maior, ao ser tocado, acessa as configurações do sistema, ou, se o dedo repousar sobre ele, exibe informações na parte superior da tela.
* **Exposição:** É possível pressionar o obturador pela metade e, mantendo-o assim, a roda passa a controlar a compensação de exposição. Essa alternância de funções é considerada inteligente.

O Menu Minimalista (e Controverso)

O que pode incomodar alguns usuários é que, por padrão, não há nenhuma informação visível na tela durante a captura.

Para ver as configurações, é preciso pressionar o botão central, o que exibe um menu de duas camadas na parte superior e inferior do display. É possível navegar usando o D-pad ou a roda, e pressionar o botão central para entrar na opção e mudar o parâmetro.

Alternativamente, existe uma mini tela que exibe essas mesmas opções, permitindo a navegação com o D-pad e o ajuste com a roda. A ideia por trás disso é manter a tela principal livre para exibir apenas a cena que está sendo fotografada.

As configurações disponíveis incluem:

  • ISO, velocidade do obturador, abertura, compensação de exposição.
  • Modo de captura: RAW, JPEG ou ambos; balanço de branco; configurações de autofoco; e modo de captura (incluindo intervalômetro, rajada e onde se alterna para vídeo).
  • Opção para relação de aspecto (afeta apenas a versão JPEG).
  • 13 simulações de filme (afetam apenas o JPEG), variando de Padrão a Warm Gold, Teal and Orange, e Monocromático. Essas configurações salvas persistem mesmo após desligar a câmera, mas não é possível salvar perfis personalizados ou reorganizar a ordem das simulações.

Avaliação Geral da Sigma BF

A câmera é equipada com um sensor *full-frame* de 24.6 megapixels. Com as lentes Sigma, as fotos são extremamente nítidas e podem ficar incríveis diretamente da câmera como JPEG, sem edição.

No entanto, o vídeo é claramente um ponto secundário. Oferece 6K a 30fps usando o sensor completo, mas não há estabilização interna (IBIS). A estabilização eletrônica está disponível, mas, ao ativá-la, a gravação cai para 4K e há um *crop* considerável no sensor, e mesmo assim a qualidade não é excepcional. A estabilização em pós-produção (como no DaVinci Resolve) ajuda, mas não é algo que um videógrafo queira depender. Há a opção de gravar em *log* para melhor gradação de cores.

Sobre a bateria, ela utiliza um novo design da Sigma, sendo super fina, mas a autonomia não é excelente. Foram obtidas cerca de 187 fotos com alguns clipes de vídeo curtos. A recarga pode ser feita via USB-C, mas recomenda-se levar uma bateria extra.

Embora o armazenamento interno seja rápido, a falta de um aplicativo fácil para descarregar fotos para o celular é um ponto negativo, embora o uso de um cabo USB-C para transferência física resolva isso — ao custo de ter que carregar o cabo. Em contrapartida, a organização automática de fotos e vídeos em pastas diárias facilita a localização posterior do material.

“Belo Tolice” (Beautiful Foolishness)

Muitos associam o nome BF a “Belo Tolice” (*Beautiful Foolishness*), um conceito que incentiva a desacelerar, estar presente e admirar a espontaneidade do mundo. A Sigma usa essa ideia para descrever a câmera como um dispositivo que acompanha o usuário e captura a beleza espontânea da vida cotidiana.

Ao usar a BF, houve uma mudança na forma de fotografar, forçando a adoção de um estilo mais analógico:

  • Preferência por deixar a câmera no modo Prioridade de Abertura, controlando-a pelo anel da lente (o que sugere que uma lente com anel de abertura é essencial para este corpo).
  • Manter o obturador e o ISO no automático, ajustando ocasionalmente o obturador para sujeitos rápidos.
  • Utilizar o D-pad/roda para alternar rapidamente entre ajustes de relação de aspecto ou simulações de filme.
  • Usar a meia pressão do obturador para acessar a compensação de exposição.
  • Tocar na tela para focar se a meia pressão não capturasse o ponto desejado.

As JPEGs saem muito bem, especialmente com os ajustes de exposição feitos durante a captura.

A câmera pode ser ideal para quem vem de um smartphone e busca qualidade superior com simplicidade (como foco por toque e compensação de exposição acessível), além de ser muito bem construída e esteticamente agradável. Sua beleza, especialmente na versão prata, inspira a sair para fotografar. O sentimento é comparável ao de usar uma Leica Q3, mas com um terço do preço e a flexibilidade de trocar de lentes.

Em resumo, a maioria das pessoas não deveria comprar esta câmera, pois existem opções mais capazes pelo mesmo preço ou menos. No entanto, para aqueles que valorizam a estética luxuosa e a “tolice bela” de possuir um objeto de design deslumbrante, ela é perfeitamente compreensível. Ela fica muito próxima de ser perfeita, mas ainda não alcança o nível de satisfação total.

Considerações Finais (Adicionadas Após o Retorno)

Em retrospecto, um colega fotógrafo que testou a câmera trouxe um ponto importante: ela é um objeto de desejo estético que atrai quem aprecia itens de luxo, mas não quer gastar o valor de uma Leica. A atração pela estética é forte, mas o peso dela a afasta de ser um substituto direto do celular.

O consenso é que a câmera é linda e divertida, mas não é a escolha ideal para quem busca a portabilidade, sutileza e velocidade de um iPhone, a menos que se esteja disposto a aceitar o peso extra pela qualidade do vidro e o acabamento.