O Antibosquito Laser: Uma Ideia que Foi Longe Demais?
O que apresentamos aqui é um conceito que realmente chama a atenção: uma raquete ou dispositivo que utiliza laser para abater mosquitos. Este tipo de ideia, que parece ter saído diretamente da ficção científica, levanta questionamentos importantes sobre sua viabilidade, segurança e desenvolvimento ao longo do tempo.
A Origem da Ideia: Fotonic Fence (2007)
A inspiração para armas que disparam torpedos ou raios fotônicos, comuns em filmes como *Star Wars* e *Star Trek*, não é totalmente nova no campo tecnológico.
Em 2007, a Fundação Bill e Melinda Gates lançou o projeto **Photonic Fence**. O objetivo principal era combater a malária, utilizando uma tecnologia que funcionava como uma “sentinela”. A ideia remetia a dispositivos autônomos, como as sentinelas do jogo *Team Fortress 2*, capazes de detectar, rastrear com ajuste de ângulo e disparar contra alvos — neste caso, mosquitos — utilizando um disparo de laser em vez de um projétil físico.
O Dilema da Segurança e Precisão
A proposta do laser, embora engenhosa para eliminar vetores de doenças como a malária, carrega um risco inerente. Qualquer arma, seja ela laser ou até mesmo um estilingue, que tenha poder suficiente para matar um mosquito, é potencialmente capaz de causar algum dano a um ser humano, por menor que seja.
Enquanto armas de chumbinho, apesar de causarem notícias negativas, geralmente não são letais, um disparo de laser, dependendo da potência, pode causar a perda da visão com 100% de precisão. Isso torna o uso de um sistema automatizado de laser em ambientes compartilhados — onde há pessoas circulando — extremamente complicado e perigoso.
Todas essas soluções, em algum momento, esbarram na lógica de segurança: se o objetivo é erradicar a malária, de que adianta ter um exterminador de mosquitos que desativa automaticamente quando detecta uma pessoa próxima por segurança? Isso anularia a eficácia do sistema em ambientes povoados.
Na prática, demonstrou-se que a dificuldade reside em:
- Ter uma máquina que se mova e se ajuste com a precisão e velocidade necessárias para acertar um alvo pequeno e rápido como um mosquito.
- Concentrar um laser em um ponto exato, dado que o alvo é pequeno e veloz.
Embora não seja impossível, é financeiramente inviável desenvolver um equipamento rápido e preciso o suficiente para rastrear e abater mosquitos voando em tempo hábil, mantendo a segurança humana.
Linha do Tempo da Evolução da Ideia
A ideia de um “laser mata-mosquito” seguiu um caminho interessante na última década:
- 2007: Proposta inicial com o Photonic Fence.
- 2009: Discussão sobre o tema **Silverkill**.
- 2010: Demonstrações que foram posteriormente alegadas como falsas.
- 2014: Ideia considerada absurda, gerando piadas e quadrinhos.
- 2016: Pesquisas sobre as tentativas anteriores.
- 2017: O conceito é revisitado, mas com uma mudança de foco.
Mudança de Rota: Aplicações Alternativas
Ao longo do tempo, percebeu-se que o uso doméstico, como um “photonic sentry”, não era comercialmente viável. O nome mudou, sugerindo que a aplicação poderia ser mais adequada para usos **agrícolas ou científicos**.
Nesses contextos, um dispositivo caro (estimado em cerca de R$ 100.000) posicionado no topo de uma plantação, que abatesse mosquitos em um raio de 1 km, poderia ser interessante, especialmente por ser uma solução sem pesticidas. A eliminação de vetores de doenças é crucial, sendo preferível a métodos que afetam negativamente a fauna local.
Além disso, a tecnologia laser já é aplicada na agricultura para afugentar pássaros (usando lasers que piscam para que eles interpretem como um sinal de “saia”), evitando danos às plantações sem pesticidas ou maus-tratos.
A Complexidade Regulamentar do Laser
É importante notar que equipamentos de emissão de laser são extremamente regulamentados em muitos países, incluindo o Brasil, EUA e Europa. O uso de lasers para gravar ou queimar mídias como CD ou Blu-ray já exige normas de segurança rigorosas.
A ideia de um equipamento aberto, disparando laser em ambiente livre, capaz de causar queimaduras, dificilmente passaria pelas regulamentações necessárias para se tornar um item de mercado comum.
Alternativas Viáveis: O Zigle Iris (ou BSIG)
O mercado já apresenta alternativas mais sensatas e acessíveis, como um dispositivo com nome questionável, o **Zigle Iris** (ou **Bizig/BSIG**).
Este aparelho utiliza um laser comum, similar aos ponteiros de apresentação usados em universidades, mas com a capacidade de detectar um mosquito e **apontar** o laser sobre ele. O produto funciona como um localizador, indicando onde o inseto está, permitindo que o usuário o mate manualmente.
* **Vantagens:** Funciona bem em ambientes escuros, como quartos, e é eficaz para detectar mosquitos pequenos e difíceis de caçar.
* **Preço:** Cerca de $199, um valor muito mais baixo que o sistema de varredura automática.
Enquanto o dispositivo de abate automático via *crowdfunding* alcançou quase 9 milhões de dólares em financiamento, com previsão de entrega inicial para outubro e escala comercial para 2026, é provável que projetos complexos como esse enfrentem atrasos ou não entreguem o esperado, seguindo o padrão de outros produtos ambiciosos, como barbeadores a laser que prometiam ficção científica, mas falharam em precisão e praticidade.
O laser mata-mosquito automatizado, se vier a ser produzido, provavelmente só funcionará em ambientes desocupados.






