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Recentemente, um artigo no canal Tech discutiu a obsolescência programada no hardware, focando no conceito de Right to Repair (Direito ao Reparo). Esse artigo anterior abordou a dificuldade em reparar dispositivos, já que muitas marcas não projetam seus produtos pensando na longevidade ou na facilidade de manutenção, como era comum em aparelhos mais antigos que se desmontavam e remontavam facilmente.
No entanto, existe outro lado da obsolescência programada que não pode ser ignorado: a obsolescência programada no software. De nada adianta conseguir reparar o hardware se o sistema operacional se torna obsoleto, deixando o aparelho defasado. É sobre este aspecto que este novo artigo irá focar.
Recomenda-se assistir ao artigo anterior sobre hardware primeiro, pois este texto serve como um complemento, abordando os dois lados da questão para uma compreensão completa.
A Obsolescência no Software: O Papel das APIs
Quando falamos sobre iOS ou Android, estamos essencialmente falando sobre o motor do sistema operacional e como ele funciona. Para que um sistema operacional opere, ele precisa de uma série de componentes. Uma parte crucial nas atualizações desses sistemas são as APIs (Interface de Programação de Aplicação).
As APIs são o local onde os desenvolvedores de aplicativos acessam as novas ferramentas e funcionalidades do sistema operacional atualizado. É através delas que eles garantem a compatibilidade dos seus apps com a nova versão do SO. Toda a “mágica” das inovações acontece a partir dessa interface.
Uma nova versão do sistema operacional não é apenas uma “pintura nova”; ela traz recursos que exigem que os desenvolvedores atualizem seus aplicativos para que continuem funcionando adequadamente.
Com o avanço das atualizações, aplicativos populares como Instagram, Facebook, YouTube e TikTok precisam ser constantemente atualizados pelos seus desenvolvedores para se manterem compatíveis. O resultado disso é que, dependendo do modelo do celular e da situação, um aplicativo atualizado pode começar a apresentar lentidão ou problemas em dispositivos mais antigos.
É importante ressaltar que os desenvolvedores não desejam que seus apps parem de funcionar, mas eles são incentivados — ou “empurrados” — pelas atualizações do Google ou da Apple a se adaptarem. Consequentemente, aplicativos essenciais podem parar de funcionar em celulares mais antigos, forçando o usuário a considerar a troca do aparelho.
Android vs. iOS: A Diferença na Atualização
Embora a Apple também participe desse cenário, historicamente ela demonstra uma política um pouco mais cuidadosa com aparelhos mais antigos, oferecendo suporte por um período maior. Por exemplo, o iOS mais recente tende a ser compatível com uma gama maior de iPhones antigos.
No Android, a situação é um pouco mais complexa devido à diversidade de fabricantes (Samsung, Motorola, OPPO, etc.). Embora isso ofereça uma vasta gama de opções em faixas de preço, também torna o usuário refém das políticas de atualização de cada empresa.
Enquanto o Google lança o Android puro para os seus Pixels, nem todos os fabricantes seguem a mesma política de atualização anual ou de suporte a longo prazo. Muitas vezes, a fabricante decide não investir tempo e recursos para atualizar um modelo antigo, priorizando os lançamentos mais recentes.
Isso significa que, no Android, é comum um dispositivo não receber atualizações importantes, ou até mesmo nenhuma, ficando preso a uma versão anterior do sistema operacional. No iOS, mesmo que um aparelho mais antigo receba a atualização, a performance e fluidez podem não ser as mesmas de um modelo mais novo, pois o novo SO exige mais poder de processamento e memória.
O Impacto no Desempenho e a Morte Lenta do Hardware
O artigo anterior já abordou a degradação da bateria. Somado a isso, temos a “morte lenta” da performance do celular devido às atualizações de software. As novas versões do sistema operacional trazem funcionalidades mais pesadas, como novos recursos visuais, inteligência artificial e mais processos rodando em segundo plano, consumindo mais memória RAM.
Em um celular recém-comprado (com um ou dois anos), tudo roda liso. Mas em um aparelho mais antigo (três, quatro ou cinco anos), a sobrecarga desses novos processos pode levar a engasgos e lentidão. Isso faz com que o usuário sinta a necessidade de trocar de aparelho, mesmo que o hardware ainda esteja fisicamente funcional.
Essa situação é ainda mais crítica em apps que envolvem finanças, como os aplicativos de banco, que podem parar de funcionar por não suportarem a versão antiga do Android utilizada no aparelho. O usuário acaba sendo forçado a comprar um celular novo por causa do software, e não por um problema físico.
A obsolescência programada no hardware faz sentido em algum grau, pois é injusto não podermos reparar nossos produtos. Contudo, o software atua como um calcanhar de Aquiles. Se o hardware pudesse ser mantido e reparado, o software avançado (com mais consumo de processamento e RAM) acabaria forçando a troca do dispositivo de qualquer maneira.
Em resumo, a vida útil do seu smartphone é uma combinação de 50% hardware e 50% software. Se um dos lados não “der as mãos” e trabalhar em conjunto com o outro, a longevidade do produto será comprometida. É fundamental reconhecer o peso do software nesse ciclo de descarte.
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