A radiação emitida pelos celulares é perigosa?

Entendendo a Radiação: Por Que Você Não Precisa se Preocupar com Seus Dispositivos Eletrônicos

É muito provável que, enquanto você lê este artigo, esteja utilizando um celular, um notebook, ou talvez até um smartwatch no pulso ou fones de ouvido sem fio. Esses dispositivos são parte integrante do nosso cotidiano. Contudo, é comum surgir a preocupação sobre a radiação emitida por eles.

Muitas pessoas expressam receio, muitas vezes alimentadas por teorias que associam a palavra “radiação” a eventos catastróficos, como a bomba atômica. No entanto, a realidade científica é bem diferente, especialmente quando falamos dos aparelhos que usamos diariamente. Este artigo visa explicar o que realmente é radiação, desmistificar os medos em relação aos eletrônicos e diferenciar os tipos de radiação existentes.

O Que é Radiação?

De forma muito simplificada, a radiação é energia que viaja de um ponto para outro. Essa transferência de energia pode ocorrer de duas maneiras principais:

1. Pelo espaço vazio (vácuo): A energia simplesmente se propaga sem a necessidade de um meio material.
2. Através de um material: A energia se transfere por meio de um meio físico, como o ar, a água ou, inclusive, o nosso corpo.

Quando falamos de celular, relógio, notebook ou roteador, estamos lidando com a radiação que se manifesta através de ondas eletromagnéticas.

Radiação Ionizante vs. Radiação Não Ionizante

Para entender por que os eletrônicos não são motivo de preocupação, é crucial diferenciar os dois grandes tipos de radiação, visualizando-os em um espectro eletromagnético:

Radiação Ionizante

Esta é a radiação que, de fato, pode causar problemas à saúde. Ela se caracteriza por possuir uma energia muito alta.

O grande perigo da radiação ionizante reside em sua capacidade de ionizar a matéria. Isso significa que ela tem energia suficiente para arrancar um elétron da estrutura do átomo da matéria, alterando sua constituição molecular e, consequentemente, podendo causar danos ao material genético (DNA) da célula.

Exemplos de radiação ionizante incluem:

  • Radiação Alfa e Beta
  • Radiação Gama
  • Raios X
  • Luz Ultravioleta

Embora associada a riscos, a radiação ionizante também é usada para o bem. O Raio X, por exemplo, é uma forma de radiação ionizante essencial para diagnosticar fraturas ou problemas internos, como em exames de tomografia. Nesses casos, a exposição é controlada, pontual e justificada pelo benefício diagnóstico. Profissionais que lidam com essa radiação diariamente, como técnicos de Raio X, precisam de proteção rigorosa justamente por estarem expostos de forma persistente.

Radiação Não Ionizante

Esta categoria engloba a radiação emitida por nossos dispositivos eletrônicos de uso diário (celulares, Wi-Fi, smartwatches, etc.).

A principal característica da radiação não ionizante é que sua energia é significativamente mais baixa. Devido a essa baixa energia, ela não tem a capacidade de ionizar a matéria.

Quando expostas a essa radiação, as células podem, no máximo, agitar-se ou mudar ligeiramente de posição, mas a estrutura do DNA celular permanece intacta. Não há dano estrutural.

O Caso dos Eletrônicos: Por Que Não se Preocupar

Vivemos hoje cercados por fontes de radiação não ionizante. Nos últimos 30 a 40 anos, o uso de celulares, notebooks, roteadores e outros aparelhos eletrônicos aumentou exponencialmente.

Se essa radiação fosse prejudicial, nós já estaríamos presenciando uma epidemia de problemas de saúde graves, como o câncer cerebral, visto que usamos celulares e fones de ouvido tão próximos à cabeça.

Contudo, os estudos científicos mais recentes e abrangentes confirmam o oposto. Uma reavaliação feita em 2024 pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer) revisou décadas de estudos e concluiu que não há correlação significativa entre o uso de celulares e o aumento de casos de câncer.

É importante notar que fatores com impacto comprovado na saúde e no desenvolvimento de doenças, inclusive câncer, são muito mais evidentes e acessíveis:

  • Fumar: Aumenta drasticamente a probabilidade de diversos tipos de câncer.
  • Consumo de Álcool: Mesmo em pequenas quantidades, estudos indicam que a bebida alcoólica causa danos celulares.
  • Dieta Inadequada: Consumo excessivo de gorduras hidrogenadas e sal pode levar à obesidade e, a longo prazo, a doenças mais sérias.

Em contraste, a radiação dos seus dispositivos é necessária para o funcionamento da tecnologia que utilizamos – sem ela, não teríamos transferência de dados, Wi-Fi ou conectividade.

Portanto, enquanto é sensato prestar atenção ao nosso estilo de vida geral (alimentação, tabagismo, consumo de álcool), a preocupação com a radiação emitida por seu celular, fone de ouvido ou roteador é desnecessária. A energia que eles emitem é do tipo não ionizante e não representa risco à estrutura celular do seu corpo.