Tecnologias modernas que complicaram a nossa vida

Tecnologias Desnecessárias: Invenções Modernas Que Complicam o Dia a Dia

Recentemente, o foco recaiu sobre o **AI PIN**, um pequeno dispositivo de inteligência artificial que foi amplamente criticado. A percepção geral era de que ele era uma invenção boba, com uma finalidade inadequada e um modo de operação inútil e idiota. Muitos dos que compraram o produto acabaram por criticá-lo, e a própria empresa parecia não ter fé em sua criação. Com o tempo, os restos dessa empresa foram adquiridos por outros.

O conceito central por trás de invenções como o AI PIN era, ironicamente, simplificar tarefas. No caso dele, o objetivo era eliminar a necessidade de pressionar e segurar o botão de ligar/desligar de um Android para acionar o assistente virtual. Esse dispositivo se propunha a fazer o mesmo que o botão *power* do seu celular já faz, seja para chamar a Siri no iPhone ou o assistente que hoje conhecemos como Gemini no Android.

Isso nos leva a refletir sobre invenções modernas que, em vez de facilitar, parecem tornar as coisas piores no cotidiano. Este artigo compila algumas dessas “inutilidades” tecnológicas que surgiram com a promessa de modernização.

A Ditadura dos Aplicativos Obrigatórios

Um dos exemplos mais irritantes é a obrigatoriedade de baixar aplicativos para realizar tarefas básicas, mesmo em plataformas que deveriam ser mais abertas.

Fechamento de Ecossistemas

No ecossistema Apple, a exigência de baixar apps pela loja oficial do iPhone é uma regra consolidada. No mundo Android, isso também é comum. O Windows, historicamente, manteve uma abordagem mais aberta, o que pode ter impedido a Microsoft de impor um controle tão rígido sobre sua loja de aplicativos. Lembramos do fracasso dos tablets Lumia, que rodavam o Windows RT e tinham compatibilidade restrita apenas aos aplicativos da loja, um fator crucial para seu insucesso.

Apps para Tarefas Simples

O lado oposto dessa moeda são os estabelecimentos que exigem a instalação de um aplicativo específico para realizar ações simples, como fazer um pedido. Houve o caso notório de uma loja de rosquinhas que só aceitava pedidos e pagamentos via aplicativo. Em São Paulo, uma cafeteria local exige que os clientes paguem por meio de seu app. Mesmo que o cliente opte por usar um tablet disponível no local, a máquina o “humilha” sugerindo que o uso do aplicativo teria sido mais rápido.

A insistência em forçar a instalação de software não é aleatória; aplicativos são ferramentas valiosas para as empresas, pois permitem:

* Monitorar o horário de uso.
* Coletar dados de localização.
* Entender o comportamento de compra.

Essa coleta massiva de informações permite que estabelecimentos, como redes de supermercados, saibam o que você compra e use esses dados para induzir compras maiores, muitas vezes mascaradas como promoções. O app pode sugerir um desconto em um item (como produtos de saúde, casa ou de animais de estimação) porque detectou que você não o compra há um certo tempo ou que o seu estoque deve estar acabando, incentivando você a comprar o dobro do necessário por um “bom preço”.

Isso não apenas fideliza o cliente ao estabelecimento, mas também o força a manter um aplicativo potencialmente mal programado, que drena a bateria e consome recursos em segundo plano. No Brasil, isso é notório com aplicativos de operadoras de telefonia, que frequentemente alertam sobre consumo excessivo de bateria e travamentos, questionando a real necessidade de sua presença no dispositivo.

Telas de Toque: A Invasão Inapropriada

Outra tecnologia desnecessária que se popularizou desde a ascensão do iPhone e se espalhou para onde não devia são as telas de toque capacitivas.

O Problema da Tela Capacitiva

A tecnologia de toque resistiva, anterior aos smartphones, exigia pressão física e era comum em dispositivos como alguns modelos mais antigos da Motorola ou nos Nokias com tela sensível ao toque. A tela capacitiva, magnetizada, registra o toque apenas com o encostar do dedo, o que possibilitou teclados virtuais menores e mais precisos.

Contudo, essa precisão extrema fez com que a tecnologia fosse aplicada em excesso. Nos notebooks, por exemplo, a adição da tela de toque é vista como um retrocesso, pois gastava mais bateria e tornava a experiência de uso “nojenta” ao sujar a tela com impressões digitais.

O toque capacitivo também anula a acessibilidade dos botões físicos, pois não oferece nenhum *feedback* tátil. A experiência se resume a uma superfície lisa, e as tecnologias que tentam simular o *feedback* tátil, fazendo a tela “levantar” ou vibrar sutilmente, nunca vingaram comercialmente.

Essa tendência levou à remoção de botões físicos em veículos. Há notícias de que fabricantes planejam reintroduzir botões físicos a partir de 2025, reconhecendo que controles sensíveis ao toque em painéis de carros, que exigem atenção total, são perigosos e ineficazes.

Tablet e Notebooks com Touch

Um tablet é, por natureza, um dispositivo de toque. No entanto, muitos usuários preferem usar teclado e mouse para apoiar o tablet, justamente porque o toque direto atrapalha. A única situação em que o toque faz sentido é com canetas stylus, como em alguns tablets.

Modelos de Pagamento por Assinatura Eterna

A popularização dos serviços de assinatura transforma bens de consumo em dívidas contínuas. O exemplo clássico são os serviços de streaming de música, onde se paga um valor mensal (como R$ 20,00 no primeiro mês) para acessar milhões de faixas.

O custo anual rapidamente se torna elevado. Pelo preço de poucas músicas que seriam compradas individualmente, você paga por um catálogo gigantesco. No entanto, se você permanece assinante por anos, o custo acumulado excede drasticamente o valor que seria gasto na compra das músicas de seu interesse. Em dois anos, o custo de assinatura pode ultrapassar o valor de compra de um celular novo.

Isso se estende a softwares de trabalho, como editores de vídeo ou imagem. Programas que poderiam ser comprados uma vez e funcionar *offline* para sempre, agora exigem mensalidades, muitas vezes monitorando sua conexão para garantir que você continue pagando, mesmo que o software não necessite de acesso à internet para operar.

Outras Inutilidades Tecnológicas

Diversos outros exemplos frustrantes foram citados:

* **Criação Compulsória de Contas:** Sites gratuitos que exigem registro, mesmo que você já tenha feito dezenas de cadastros antes, apenas para coletar mais dados sobre você e tentar reengajá-lo com ofertas (como um cupom de desconto enviado após um período de inatividade).
* **Menus QR Code em Restaurantes:** Embora úteis como um adicional, tornam-se problemáticos quando são a *única* forma de visualizar o cardápio. Isso obriga o escaneamento, a navegação por anúncios indesejados e, em casos extremos, o *download* de arquivos pesados (como PDFs de 90 MB com fotos em alta resolução), desperdiçando dados e tempo.
* **Eletrodomésticos “Inteligentes”:** Aparelhos como cafeteiras e *air fryers* digitais frequentemente possuem funcionalidades extras ou modos de reset que não estão no manual, exigindo que se pesquise em fóruns obscuros por comandos secretos (como segurar a barra de espaço no teclado de um aparelho específico) para resolver problemas.
* **Itens Obrigados a Estar Online:** Dispositivos que funcionam perfeitamente *offline* passam a exigir conexão constante, como aspiradores de pó robôs que declaram “indisponibilidade” se o servidor cair. A longevidade desses produtos é questionável, pois os servidores podem ser desativados em poucos anos.
* **Jogos em Mídia Física:** A mídia física (CDs/Discos) se tornou apenas uma licença para o *download* do jogo, que frequentemente exige conexão constante, invalidando a posse física do produto caso os servidores sejam descontinuados.

Essas tecnologias, embora pareçam inofensivas ou até benéficas isoladamente, no agregado demonstram uma tendência de tornar a vida mais complexa e tirar o controle do usuário sobre seus próprios equipamentos.

Perguntas Frequentes

  • Como os aplicativos coletam dados do usuário?
    Os aplicativos monitoram o horário de uso, as localizações acessadas e os itens ou serviços consumidos, permitindo às empresas criar perfis de consumo detalhados.
  • O que é a tela de toque capacitiva?
    É um tipo de tela sensível ao toque que usa o campo elétrico do dedo para registrar a interação, tornando a resposta ao toque mais fluida e precisa do que a tecnologia resistiva.
  • Por que alguns softwares exigem assinatura online?
    Muitos softwares utilizam o modelo de assinatura para garantir receita contínua, forçando o usuário a se reconectar periodicamente para validar a licença, mesmo que o uso principal seja offline.
  • É possível ter acesso a comandos ocultos em eletrodomésticos?
    Sim, muitas vezes, comandos secretos ou opções avançadas que não constam no manual são descobertos apenas através de fóruns de usuários especializados.
  • Qual a melhor forma de evitar o acúmulo de aplicativos desnecessários?
    Questionar a real necessidade de um aplicativo para uma tarefa pontual (como pedir comida ou pagar um estacionamento) e preferir métodos tradicionais ou sites funcionais sempre que possível.