Por que a Huawei construiu uma cidade tecnológica completa na China?

A Cidade da Huawei: Um Gigantesco Campus de Pesquisa e Desenvolvimento

Por que a Huawei construiu uma cidade inteira na China com um estilo que remete à Europa? Qual é o propósito por trás da criação de uma civilização interligada por um sistema de trem? A construção desse campus pela empresa levanta questões intrigantes sobre o futuro da inovação tecnológica.

Este complexo, que começou a ser erguido em 2019, é, na verdade, um **campus de pesquisa e desenvolvimento (P&D)**. Assim como grandes universidades e centros de pesquisa globais como Harvard ou Stanford, a Huawei materializou sua sede de inovação em uma cidade autônoma.

Este campus é composto por 108 edifícios distribuídos em 12 zonas, com capacidade para cerca de 30.000 funcionários em sua lotação máxima. É um espaço verdadeiramente gigantesco dedicado integralmente a P&D.

O Modelo de Investimento em Pesquisa

É comum que empresas de tecnologia invistam pesadamente em pesquisa e desenvolvimento. Enquanto empresas de setores como o energético costumam concentrar seus orçamentos em publicidade e outras investem no mercado financeiro, as gigantes de tecnologia — como Microsoft, Apple e Google — direcionam a maior parte de seus recursos para P&D.

A Huawei adotou essa filosofia em seu sentido mais literal. A cidade-campus, que foi sendo expandida desde 2019, adota um estilo arquitetônico que simula diversas partes do mundo, todas conectadas por um trem interno. A lógica é clara: reunir talentos e mentes criadoras de diversas nacionalidades para promover a colaboração e a troca de conhecimento em um ambiente que funciona como uma “hiperuniversidade”.

Desenvolvimento de Tecnologia Proprietária

A construção desse centro de excelência garantiu à Huawei uma **completa independência de recursos**. É no coração desse campus que se originam as inovações cruciais da empresa, como os chips Kirin e o sistema operacional Harmony OS (incluindo a versão mais recente, Harmony OS Next).

O Harmony OS Next, que evoluiu de um fork do Android para um projeto totalmente independente, opera com um Microkernel proprietário, não se baseando no código aberto do AOSP (Android Open Source Project). Embora ele consiga rodar um emulador Android — o chamado “modo viagem” para cidadãos chineses em viagens internacionais —, seu foco é o ecossistema nativo.

Apesar de a empresa focar predominantemente no mercado chinês atualmente (especialmente após o P30 Pro), a existência desse campus sinaliza um grande esforço em manter uma cadeia produtiva e de desenvolvimento completamente própria, que inclui métodos de produção de chips diferenciados em relação a players como a TSMC.

Wearables: Validação Científica de Dados

Um dos aspectos mais impressionantes do trabalho realizado neste campus está no desenvolvimento de seus *wearables*. A precisão dos dispositivos da Huawei é uma referência, especialmente em relação a dispositivos médicos.

Um exemplo citado é o Huawei Watch D2, que é certificado pela Anvisa como um equipamento médico, permitindo a aferição real da pressão arterial através do inflar da pulseira, algo que a concorrência geralmente apenas estima.

Para atingir essa precisão em métricas como sono, frequência cardíaca e esportes, a empresa investe em validação científica rigorosa, utilizando laboratórios avançados como o **Hell Flab de Son Lake**, com cerca de 4600 m².

Nesses espaços, como os ginásios de esporte dentro do próprio campus, são realizados testes intensivos:

* Pessoas cobertas por sensores (como uma “múmia elétrica”) fornecem dados detalhados de movimentos e consumo calórico durante a prática esportiva.
* Esses dados brutos são usados para treinar o hardware e o software do relógio.
* O objetivo final é que o dispositivo, com sua capacidade limitada de leitura no pulso, consiga traduzir e resumir com a máxima precisão o que os sensores complexos identificariam.

Este nível de estudo científico é o que diferencia os wearables da Huawei em relação à concorrência em termos de precisão, superando, em muitos aspectos, marcas focadas unicamente em esporte, como Garmin ou Polar.

Hardware Além dos Smartphones

O foco em P&D não se restringe apenas a celulares (como a linha Pura 70, com seu sensor de 1 polegada e abertura variável, ou os dobráveis Mate X6 e XT Ultimate). A Huawei desenvolve hardware e software embarcados para diversos setores:

* **Automotivo:** Parcerias com montadoras chinesas resultam em centrais multimídia avançadas, sistemas de condução autônoma e sensores próprios que utilizam seus chips proprietários.

Essa autonomia tecnológica sugere que a empresa está preparada para um futuro com mais opções de sistemas operacionais além da dualidade iOS/Android, sendo o Harmony OS Next uma alternativa robusta.

A Importância da Competição para o Mercado Brasileiro

Embora produtos como o Huawei Trefold (celular que dobra em três partes) sejam conhecidos, muitos lançamentos da Huawei não chegam oficialmente ao Brasil, restringindo as opções disponíveis ao consumidor. A falta de competição, como visto no mercado de tablets (onde o Kindle domina o segmento E-Ink), tende a encarecer produtos importados e empobrecer as escolhas. A chegada de tecnologias desenvolvidas neste campus pode, no futuro, trazer mais opções e preços mais competitivos para o mercado local.

Perguntas Frequentes

  • O que é o campus da Huawei?
    É um gigantesco centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) construído pela empresa na China, no estilo europeu, projetado para abrigar milhares de talentos e promover a inovação integrada.
  • Qual a principal função do Harmony OS Next?
    É o sistema operacional proprietário da Huawei, que não é baseado no Android Open Source Project (AOSP), sendo desenvolvido para rodar nativamente em seus dispositivos.
  • Como a Huawei garante a precisão dos seus smartwatches?
    Através de um foco intenso em validação científica de dados, utilizando laboratórios especializados para treinar o hardware e software, permitindo, por exemplo, a aferição real da pressão arterial.
  • É possível usar aplicativos Android no Harmony OS Next?
    Sim, é possível instalar um emulador Android dentro do Harmony OS Next, especialmente útil para quem precisa de aplicativos específicos indisponíveis nativamente.
  • Qual a porcentagem de funcionários dedicados à pesquisa na empresa?
    Mais da metade dos funcionários da empresa, cerca de 55%, são dedicados a atividades de pesquisa e desenvolvimento.