Celular de 20 mil? O que está acontecendo com os preços dos celulares chineses no Brasil?

O Preço das Novas Marcas Chinesas no Brasil: Uma Análise dos Lançamentos em 2025

Um artigo anterior explorou o que as marcas chinesas precisavam fazer para entrar no mercado brasileiro. Em 2025, essa reflexão se tornou realidade com a chegada de diversas empresas como Jovem (Vivo), Oppo, Realme e Huawei. No entanto, essa inundação de novos concorrentes trouxe um debate fundamental: o preço de seus lançamentos.

Enquanto a chegada de novas marcas é, em princípio, positiva por aumentar a concorrência e as opções para o consumidor, os valores praticados em alguns lançamentos recentes levantam sérias dúvidas sobre a estratégia de mercado adotada.

O Dilema dos Preços Elevados em Lançamentos

A situação atual é marcada por aparelhos de marcas chinesas recém-chegadas sendo lançados com preços que beiram os R$ 20.000. Um exemplo citado foi o Honor Magic V3, um celular com um processador do ano anterior, lançado por impressionantes R$ 19.999.

Em contrapartida, existe uma opção mais acessível, o Honor Magic 7 Lite, precificado em R$ 4.599. Apesar de ser um intermediário, a disparidade de preço entre esses dois modelos dentro da mesma marca é notável e levanta a questão: para quem é o modelo mais caro, se um iPhone novo pode ser mais acessível?

A realidade do mercado brasileiro, onde as três marcas predominantes eram historicamente Apple, Motorola e Samsung, está sendo alterada. No passado, marcas como Xiaomi e Realme tinham presença majoritariamente via mercado cinza. A chegada oficial, que deveria trazer benefícios ao consumidor, parece ter vindo acompanhada de uma estratégia de precificação agressiva e, em alguns casos, desconectada da realidade de consumo.

A Lógica do “Custo-Benefício” Questionada

A percepção de que era mais barato comprar um topo de linha importado (via mercado cinza, que não arrecada impostos da forma tradicional) do que um modelo oficial foi o que impulsionou a popularidade de marcas como a Xiaomi em anos anteriores. Produtos de excelente qualidade eram acessíveis mesmo quando importados.

Essa lógica, no entanto, parece ter sido invertida com a entrada oficial dessas marcas.

Quando analisamos o cenário atual, a estratégia de cobrar preços de “luxo” em aparelhos que não são necessariamente topo de linha ou que usam tecnologias de gerações passadas (como o processador do ano anterior no Honor Magic V3) é vista como um erro de posicionamento.

* Um aparelho intermediário da Jovem (JV50) está sendo vendido por R$ 4.300 (em operadoras) ou R$ 5.000 (no varejo).
* Com o valor de R$ 4.500, é possível adquirir um topo de linha da Samsung (Galaxy S24 Ultra, em promoção) ou equivalentes de Motorola ou Xiaomi do ano anterior, que oferecem um desempenho significativamente superior. Um teste de benchmark mostrou que o JV50 entregava apenas 33% do desempenho do Galaxy S25 Ultra.

Isso sugere que os novos entrantes estão praticando o que pode ser chamado de preço de ancoragem: inflar artificialmente o preço inicial para, futuramente, aplicar descontos e criar uma falsa sensação de benefício.

O Medo de Posicionamento e a Questão Tributária

Entende-se que trazer produtos para o Brasil envolve uma carga tributária imensa e custos logísticos altos, o que eleva o preço final em comparação com o dólar. As marcas também gastam muito em divulgação para construir seu nome no mercado nacional, onde já existem gigantes consolidadas.

No entanto, a forma de mitigar isso gera discordância. Em vez de tentar nacionalizar parte dos custos ou definir preços mais realistas para o público geral brasileiro, algumas marcas optam por precificar seus intermediários no patamar dos topos de linha já estabelecidos, como a Apple.

Existe, inclusive, o receio de algumas marcas em lançar produtos com preços acessíveis, pois isso poderia gerar a percepção de que o produto é de baixa qualidade – o “palhaço” consumidor que associa preço baixo a lixo.

Ainda assim, a realidade da maioria da população brasileira, que possui renda mais modesta (um salário mínimo em torno de R$ 1.500, no exemplo citado), indica que produtos na faixa de R$ 5.000 ou R$ 20.000 não são opções viáveis. Muitos consumidores com alto poder aquisitivo que pagariam esses valores por um celular premium ainda preferem importar ou adquirir os modelos já conhecidos e consolidados.

Apesar de reconhecermos a qualidade e o volume de vendas que marcas como Honor, Oppo e Vivo possuem no mercado global, a estratégia de entrada no Brasil, focada em preços altíssimos para modelos intermediários ou dobráveis de gerações anteriores, parece equivocada para o cenário atual.

Perguntas Frequentes

  • O que é “preço de ancoragem” no contexto de lançamento de eletrônicos?
    É a estratégia de definir um preço inicial muito alto (âncora) para um produto, mesmo que ele não valha aquilo, para que descontos subsequentes pareçam mais vantajosos ao consumidor.
  • Qual a relação do mercado cinza com o sucesso inicial da Xiaomi?
    A Xiaomi alcançou grande popularidade porque seus aparelhos importados sem a canal oficial eram significativamente mais baratos, oferecendo um custo-benefício imbatível comparado aos modelos oficiais da época.
  • É possível que a alta carga tributária justifique os preços dos lançamentos chineses?
    A tributação aumenta o custo, mas ela não justifica totalmente a precificação de aparelhos intermediários no mesmo nível dos topos de linha já estabelecidos no mercado local.
  • Por que algumas marcas hesitam em precificar produtos como “baratos”?
    Há um receio de que o consumidor brasileiro associe preços baixos a produtos de má qualidade, um estigma que algumas marcas preferem evitar, mesmo que isso prejudique o volume de vendas inicial.
  • Como as marcas chinesas podem se beneficiar da concorrência no Brasil?
    Mais players no mercado aumentam a concorrência, forçando a melhoria da qualidade geral e oferecendo ao consumidor mais opções de escolha alinhadas a diferentes orçamentos.

A chegada dessas marcas é crucial para a diversidade e concorrência, mas o sucesso dependerá da adaptação de suas estratégias de preço à realidade brasileira, focando no equilíbrio entre qualidade e custo acessível, como demonstraram ser bem-sucedidas em outros mercados.