O que aconteceu com as câmeras sob o display? Por que só o Galaxy Fold ainda usa essa tecnologia?

Por Que a Tecnologia de Câmera Debaixo do Display Ainda Não é Universal?

A tecnologia de câmeras sob o display (Under Display Camera – UDC) é uma inovação que promete telas verdadeiramente imersivas, eliminando a necessidade de entalhes ou furos. No entanto, apesar dos avanços, ela ainda não se tornou um padrão em todos os dispositivos. Mas por que essa tecnologia não vingou como deveria?

A Experiência com a Câmera Sob o Display

Embora fabricantes como a Samsung utilizem essa tecnologia na linha Galaxy Fold, a experiência visual não é perfeita. Ao observar a tela totalmente branca ou ao ativar a câmera frontal, é possível notar uma região anômala onde o sensor está alocado. Essa área apresenta uma densidade de pixels diferente e um “buraco” sutilmente visível.

Para a maior parte do uso diário com a tela ligada, essa imperfeição se torna esquecida. Contudo, ao abrir o aplicativo da câmera, a qualidade da imagem frontal entregue é notavelmente inferior, muitas vezes resultando em fotos simples e de baixa qualidade.

É quase um feito da engenharia que a Samsung mantenha essa tecnologia nos seus dispositivos dobráveis, pois a maioria das outras empresas desistiu dela, optando por soluções como câmeras motorizadas ou o uso de furos/entalhes.

O caso do ZTE Axon com UDC ilustra bem o problema: apesar de ter uma tela totalmente imersiva, a qualidade da câmera frontal era descrita como pavorosa, comparável a uma imagem capturada sob condições extremas. O Mi Mix 4 da Xiaomi e os modelos Galaxy Z Fold 3, 4 e 5 da Samsung também seguiram caminhos semelhantes, com a Samsung sendo mais “leniente” e experimental com essa linha.

O Desafio Físico: Tela vs. Câmera

O principal motivo para o abandono generalizado da tecnologia UDC reside no conflito físico entre as necessidades de uma tela e as de uma câmera.

Uma tela é projetada para ser o mais resistente possível à luz solar vinda em sua direção, refletindo-a para que o usuário possa ver o conteúdo claramente. Em contrapartida, uma câmera precisa ser o mais sensível possível, absorvendo a máxima luz incidente para capturar boas imagens.

Quando combinamos esses dois componentes, enfrentamos o problema do **filtro polarizador**. Telas de display são compostas por múltiplas camadas de materiais – vidro, filtros polarizadores, substrato, camada de toque (digitizer) e elementos emissores de luz. Todos esses componentes organizam os fótons para formar imagens visíveis ao olho humano.

O desafio técnico da UDC é:

1. **Encontrar materiais transparentes** que permitam a passagem da luz para a câmera, mas que também possam se tornar opacos quando necessário para exibir o conteúdo da tela.
2. **Evitar distorções e aberrações cromáticas** (como o *flare*, aquele efeito de halo ao redor de fontes de luz intensa), que são agravadas pela presença de camadas adicionais de vidro na frente da lente.

Colocar a câmera atrás de todas essas camadas de tela e digitizer significa que ela está vendo a imagem através de um filtro que, por natureza, é feito para bloquear ou organizar a luz. Além disso, a luz rebatida ou espalhada pela tela, em vez de ir diretamente para o sensor, confunde a câmera, resultando em fotos de péssima qualidade, muitas vezes limitadas a resoluções baixas (cerca de 4 megapixels, mesmo com compensações por software).

Compensações e Alternativas Adotadas

Para tentar mitigar a baixa captação de luz, as fabricantes tiveram que comprometer a qualidade da própria tela na área da câmera. Isso se manifesta de duas formas nos modelos Fold:

* **Diminuição da Luminância:** Os pixels naquela região específica emitem menos luz.
* **Diminuição da Densidade de Pixels:** A área da câmera fica com uma densidade menor, parecendo uma “peneira” para permitir que mais luz chegue ao sensor.

Esta técnica é comparável a tentar ver a rua através de uma janela de banheiro com efeito de privacidade: você enxerga algo, mas a imagem é distorcida. Olhar a rua diretamente através de uma parede sólida é impossível. O nível de dificuldade técnica para a UDC é comparar-se a tentar ver através da parede.

As marcas que tentaram resolver isso por software e hardware (sensores mais sensíveis) ainda assim geraram fotos muito inferiores às câmeras frontais tradicionais. Por isso, a maioria das empresas optou por abandonar a UDC.

A Perspectiva do Consumidor e o Mercado

O mercado demonstrou claramente sua preferência: os consumidores valorizam mais a qualidade da fotografia frontal do que a tela totalmente ininterrupta.

Mesmo o “bigodinho” (notch) do Face ID da Apple, que abriga sensores complexos de infravermelho, e os furos de câmeras em celulares Android, são amplamente tolerados. Se o consumidor se importasse significativamente com a ausência de furos, produtos como o iPhone, que ainda utilizam o entalhe, não venderiam tão bem. A performance da câmera é um fator de compra muito mais relevante do que a estética de uma tela sem interrupções.

Como resultado, as marcas focam seus investimentos onde há maior retorno financeiro e demanda de mercado. A câmera sob o display permanece como uma tecnologia experimental, e não uma prioridade para o consumidor médio.

Perguntas Frequentes

  • Qual o principal desafio técnico da câmera sob o display?
    O principal desafio é conciliar a necessidade da tela de repelir a luz (para boa visibilidade) com a necessidade da câmera de absorver o máximo de luz (para boa captação de imagem), além de gerenciar distorções causadas pelas múltiplas camadas de painel.
  • O que acontece com a qualidade da imagem quando a câmera fica sob a tela?
    A qualidade da imagem tende a ser significativamente inferior, muitas vezes comparada a fotos de baixa resolução (ex: 4 megapixels), devido à filtragem e difusão da luz pelas camadas da tela.
  • Por que a Samsung continua usando UDC em seus aparelhos dobráveis?
    A Samsung utiliza essa tecnologia na linha Fold por ser considerada uma linha experimental e de nicho, onde há maior tolerância do consumidor a concessões técnicas, como a qualidade inferior da câmera frontal interna.
  • É possível ver o local da câmera sob o display em telas brancas?
    Sim, ao visualizar cores muito claras ou totalmente brancas, a região onde a câmera está alocada geralmente apresenta uma densidade de pixels diferente ou uma textura incomum.
  • Qual a solução adotada pelas marcas para melhorar a captação de luz em UDCs?
    As marcas diminuem a densidade de pixels ou a luminância na área da câmera, criando um efeito de “peneira” para que mais luz alcance o sensor, embora isso afete a uniformidade da tela.