Por que é impossível acabar com os códigos QR (mesmo teoricamente)

Recentemente, um fato interessante compartilhado gerou bastante discussão: é literalmente impossível “acabar” com os códigos QR.

Isso não significa que as combinações geradas sejam infinitas a ponto de nunca conseguirmos esgotá-las antes da morte térmica do universo. O ponto é que o conceito de “acabar” com eles simplesmente não se aplica.

Muitas pessoas reagiram a essa afirmação de forma dismissiva, interpretando-a como um absurdo, e argumentaram que os códigos QR possuem um tamanho máximo e não podem armazenar dados infinitos. No entanto, essas pessoas estavam interpretando mal a afirmação. Não foi dito que eles armazenam dados infinitos ou que são ilimitados; a questão central é que não se pode esgotá-los, o que é uma distinção importante.

A confusão parece ter se concentrado em dois pontos principais:

  1. Pessoas que fundamentalmente não entenderam como os códigos QR funcionam e pensaram que eles operam da mesma forma que os códigos de barras tradicionais.
  2. Pessoas que entenderam o funcionamento, mas se prenderam aos semânticos do termo “esgotar”, perdendo o ponto principal.

É importante notar que houve um pequeno erro na afirmação inicial: não é possível expandir códigos QR indefinidamente; eles têm um tamanho máximo. Contudo, isso não afeta o argumento principal sobre a impossibilidade de esgotamento geral.

Diferença entre Códigos QR e Códigos de Barras (UPC)

A maior confusão reside na comparação com os códigos de barras (como os UPC ou códigos universais de produto) encontrados em embalagens.

  • Códigos de Barras (UPC): Eles codificam apenas um número. Ao serem escaneados, é necessário consultar um banco de dados centralizado (como o da GS1, onde empresas compram blocos de números) para descobrir a qual dado final esse número corresponde. Se uma empresa possui um número de código de barras, ninguém mais pode usá-lo para identificar seus produtos, pois o banco de dados oficial retornará a informação registrada. Como são compostos por um número fixo de dígitos (exatamente 12 no caso dos UPC) que servem apenas como identificadores em um sistema centralizado, é definitivamente possível esgotar os códigos de barras. Outras empresas poderiam comprá-los todos, mesmo sem usá-los, impedindo a aquisição por outros.
  • Códigos QR: Os dados reais são armazenados no próprio código QR. O código QR é o dado final. Eles são uma maneira sofisticada de armazenar dados textuais em formato de imagem.

QR Codes como Fontes de Texto

Pode-se pensar nos códigos QR como um “tipo de fonte de texto” incomum, criado para ser facilmente lido por computadores, assim como temos Times New Roman ou Arial.

Assim como quando você escreve algo à mão, o resto do mundo não tem conhecimento da informação até que ela seja compartilhada. Da mesma forma, quando você gera um código QR para algo, o processo é feito localmente no seu dispositivo. Se você quisesse, seria possível consultar a especificação técnica dos códigos QR e desenhar um código QR à mão do zero em um papel, e ele funcionaria como qualquer outro. Se você gerar outro código QR para o mesmo texto mais tarde, ele será o mesmo (embora o estilo possa variar, o padrão de pontos para os dados será idêntico).

Tecnicamente, há mais elementos envolvidos do que apenas a conversão de texto em pontos, como a inclusão de informações para correção de erros. Isso significa que, mesmo que partes do código sejam obscurecidas, o texto original ainda pode ser decodificado. Além disso, existem diferentes tamanhos de códigos QR, dependendo da quantidade de dados que precisam ser armazenados (incluindo a correção de erros).

Essa compreensão fundamental sobre a codificação de dados diretamente na imagem deve esclarecer o ponto principal da afirmação inicial.

A Confusão Semântica sobre “Esgotar”

Apesar da explicação técnica, houve quem se prendesse à semântica do termo “esgotar”. O que se entende por “esgotar” algo é que não há mais daquele item disponível para uso; ele está completamente consumido. Para que este termo se aplique, o item precisa ser algo que possa ser inerentemente esgotado (como acontece com os códigos de barras).

É importante frisar que a impossibilidade de esgotamento dos códigos QR não está relacionada ao limite de armazenamento de dados em um único código individual. Em um código QR específico, se você tentar colocar dados demais, você, de fato, ficará sem espaço. No entanto, isso é análogo a encher uma caixa: o fato de uma caixa estar cheia não significa que todas as caixas do mundo acabaram.

A discussão se tornou mais complicada porque, nas interações escritas, não é possível pedir esclarecimentos sobre o modelo mental de cada pessoa. Por exemplo, alguns pareciam pensar que esgotar códigos QR significa que eles são finitos e, uma vez que todos são usados, novos não podem ser criados. Isso indica uma confusão com o modelo de código de barras. Outros misturaram os conceitos, aceitando a existência de um limite técnico para um código individual, mas ainda assim imaginando um esgotamento prático global.

Uma analogia útil mencionada é a do alfabeto: cada letra é única, mas ninguém afirma que esgotaremos as letras se muitas palavras forem escritas. Da mesma forma, gerar múltiplos códigos QR para o mesmo texto (ou mesmo o mesmo texto com ligeiras variações) não impede que outros gerem códigos com o mesmo conteúdo. O que existe é a garantia de que, para um mesmo texto, o código gerado (determinístico) será sempre o mesmo.

Ainda que alguém utilize todas as combinações possíveis de um modo restrito (como usar códigos QR apenas em modo numérico para rastreamento de inventário em um armazém), isso não significa que os códigos QR sejam “usados até o fim”. Se uma pessoa usou todas as combinações possíveis em seu armazém, esses códigos ainda existem no universo de possibilidades, apenas foram designados por ela. O uso por um indivíduo não impede a existência ou uso por qualquer outra pessoa no mundo.

A intenção inicial era apenas apresentar um fato divertido e sem consequências. A ideia central é que o conceito de esgotamento não se aplica à disponibilidade geral dos códigos QR como um formato de codificação de dados.

Perguntas Frequentes

  • O que torna os códigos QR diferentes dos códigos de barras tradicionais (UPC)?
    Os códigos de barras UPC armazenam apenas um número que funciona como identificador, exigindo uma consulta a um banco de dados centralizado. Os códigos QR armazenam os dados reais diretamente no padrão da imagem.
  • É possível que um único código QR atinja seu limite de armazenamento de dados?
    Sim, códigos QR individuais possuem um tamanho máximo definido e você pode exceder a capacidade de armazenamento de dados ao tentar codificar informações demais em um único código.
  • Por que não se pode “esgotar” os códigos QR?
    Porque a geração de um código QR é um processo computacional que mapeia dados diretamente para um padrão visual, e não um sistema de identificadores limitados e centralizados como os códigos de barras.
  • Qual o papel da correção de erros em um código QR?
    A correção de erros adiciona dados redundantes ao código, permitindo que ele seja lido corretamente mesmo que partes dele estejam danificadas ou obscurecidas.
  • Como a unicidade dos códigos QR é definida?
    A unicidade é determinística: um mesmo texto (entrada) sempre gerará o mesmo padrão de código QR (saída), mas diferentes textos gerarão diferentes códigos. Isso não significa que o código gerado seja “consumido” ou retirado de circulação após o uso.

Se você já tinha conhecimento sobre este aspecto dos códigos QR, seria interessante discutir como você chegou a essa conclusão. O objetivo deste artigo é esclarecer as diferenças técnicas que levam a essa conclusão.