As Regras Não Escritas dos Smartphones e Um Dispositivo que Desafia Todas Elas
No universo dos smartphones, existem duas regras bastante simples que costumam guiar o mercado:
1. **Mais funcionalidades, menor preço = Ótimo telefone.**
2. **Menos funcionalidades, maior preço = Um Apple, que também é considerado um ótimo telefone.**
No entanto, o aparelho que temos em mãos neste artigo não segue nenhuma dessas regras. Na verdade, a experiência peculiar começa já na embalagem.
A Experiência de Unboxing Inesperada
Geralmente, ao abrir a caixa de um novo celular, você encontra o dispositivo imediatamente. Neste caso, ao abrir a embalagem principal, você encontra… **outra caixa**. E não é uma caixa comum de papelão; trata-se de uma **caixa metálica fabricada no Japão**.
Somente após abrir essa caixa secundária e remover a tampa é que o telefone é revelado.
À primeira vista, o dispositivo pode causar confusão, pois não se parece com um smartphone comum. Ele é comparado a uma versão pequena, confiante e “sem desculpas, grossa” (unapologetically thick) de Tyrion Lannister, mas no mundo dos celulares.
O feeling na mão é fantástico. Ele se encaixa muito bem, não pesa muito e permite alcançar todos os cantos com apenas uma mão. Além disso, não há um “calombo” de câmera incomodando os dedos, e os cantos são arredondados. O visual geral é bastante premium, caracterizado por um design todo em metal, preto e sem frescuras.
Ligando o Aparelho e A Tela Exclusiva
Ao ligar o telefone com um toque longo no botão, a tela acende momentaneamente e apaga. É preciso pressionar novamente para que ela permaneça ligada.
A tela de bloqueio tem uma aparência distinta. Mas antes de explorá-la, é importante falar sobre o display. Embora pareça uma tela em preto e branco no estilo e-ink, na realidade, trata-se de um painel Colorido AMOLED de 3.92 polegadas com revestimento fosco (matte coating), mas que está restrito estritamente a exibir preto e branco. É possível inverter as duas cores, mas nada além disso.
Navegação e Controles Físicos
A navegação na interface de usuário (UI) também é bastante diferente. Ao passar da tela de bloqueio, não há tela inicial (home screen) nem gaveta de aplicativos (app drawer). O sistema vai direto para a sua lista de contatos. Um detalhe notável: uma estrela ao lado de um nome ou número indica uma chamada perdida ou uma mensagem de texto daquele contato.
Para todas as outras funções, é necessário recorrer aos botões físicos:
* **Dial Giratório:** Permite acender a lanterna (ao pressionar) ou ajustar o brilho da tela (ao girar).
* **Botões de Volume:** Controlam o som.
* **Botão Central:** Leva você para dentro do sistema, exibindo aplicativos, configurações e funcionalidades. Pressionar novamente retorna ao menu anterior.
* **Botão da Câmera:** Este é o controle físico real da câmera, permitindo tirar fotos, gravar vídeos ou até mesmo selfies, já que há uma câmera frontal presente.
Ao verificar a galeria de fotos, felizmente, as imagens e vídeos capturados não são em preto e branco.
Funcionalidades Limitadas
Em resumo, este telefone permite realizar as seguintes tarefas:
* Fazer chamadas.
* Enviar mensagens de texto.
* Tirar fotos.
* Ouvir músicas baixadas.
* Algumas outras funções básicas.
No entanto, ele não permite:
* Rolar *reels* (ou conteúdos similares de redes sociais).
* Assistir a vídeos.
* Enviar *snaps* (mensagens com conteúdo efêmero).
* Enviar ou receber e-mails.
* Participar de chamadas de vídeo.
* Usar o Google Maps.
Embora rode em Android, não é possível instalar aplicativos de terceiros. Se você receber um link em uma mensagem, ele simplesmente não abrirá. É, essencialmente, um “dumb phone” (telefone burro) que não tem a aparência de um.
O Propósito e a Realidade de Usar um Telefone “Dumb”
O propósito declarado deste aparelho é reduzir o tempo de tela, sendo utilizado como telefone principal. Contudo, na prática, isso se mostrou inviável.
Após algumas tentativas de uso como dispositivo diário, foi necessário desistir devido à extrema inconveniência.
* **Pagamentos:** Não havia suporte a pagamentos UPI, obrigando o uso de dinheiro e cartões físicos.
* **Navegação:** Ficar sem o Google Maps foi um pesadelo.
* **Serviços:** A falta de aplicativos como Swiggy ou Blinket (serviços de entrega) foi muito frustrante.
* **Música:** A impossibilidade de fazer streaming de música online, pois só permite tocar arquivos baixados, foi um problema. Além disso, não possui entrada para fone de ouvido.
E para complicar ainda mais, este telefone custa impressionantes $700 USD (aproximadamente 62.000 Rúpias Indianas).
Conclusão: Lições Aprendidas
Este dispositivo quebra todas as regras do mercado: tem poucas funcionalidades, é extremamente caro e não serve para a maioria das necessidades atuais. O preço elevado parece ser justificado apenas pela aparência sofisticada e pela embalagem bonita.
Em comparação, outro aparelho híbrido lançado no mercado indiano custa menos de um décimo do preço deste modelo, oferece mais funcionalidades e é muito mais utilizável.
Portanto, aprendemos três lições importantes com este aparelho:
1. Um “dumb phone” feito para reduzir o tempo de tela é uma **ideia estúpida**.
2. Um “dumb phone” caro feito para reduzir o tempo de tela é uma **ideia ainda mais estúpida**.
3. E a mais importante: apenas a Apple tem permissão para quebrar as regras do mercado. Mais ninguém.






